Ciclo do Stress
O ciclo do stress refere-se a um padrão recorrente de respostas fisiológicas, cognitivas, emocionais e comportamentais que ocorrem em resposta a stressores reais ou percepcionados. Este ciclo envolve quatro fases: o stressor, a resposta a esse stressor, como lidamos com a situação, e a fase de resolução/perpetuação. Para ser mais fácil de explicar, gosto de usar a seguinte nomenclatura para as quatro fases: gatilho, emoção, reação, comportamentos.
O stressor ou gatilho, é um evento externo – uma situação – que é percebida como desafiadora, avassaladora ou ameaçadora. É importante frisar que os stressores podem variar muito entre cada indivíduo, pois iremos relacionar com a percepção que cada pessoa terá para com a situação em curso.
A fase da resposta ao gatilho é a fase da emoção. Quando estamos perante um stressor, o nosso organismo inicia o processo de resposta à ameaça. Esta resposta involve alterações emocionais, cognitivas e psicológicas que nos preparam para lidar com a ameaça percepcionada. Mas antes de entrar propriamente no que ocorre no nosso organismo, gostaria de falar sobre como chegamos até lá. Quando estamos perante um gatilho, iremos ter pensamentos que são fruto do nosso desenvolvimento enquanto pessoa, das nossas crenças e convicções. Um exemplo simples será quando no trânsito, um carro nos “rouba” a vez e se coloca à nossa frente. O stressor, o gatilho é o acontecimento que acabou de ocorrer. Cada indivíduo terá os seus próprios pensamentos acerca do acontecimento mas certamente que poderão ir de “Os pensamentos poderão ser sobre “que falta de civismo”, “quem este pensa que é para se colocar à minha frente” (significância), ou até mesmo de agressão e poder. Estes pensamentos irão despoletar estados emocionais de acordo com o valor que atribuímos. Em termos biológicos, ao atribuirmos um valor negativo ao acontecimento, estamos a dar mais uma indicação de que está na hora de nos prepararmos para “lutar ou fugir”. Assim, verifica-se um aceleramento do batimento cardíaco, aumenta a pressão arterial, os músculos ficam tensos e libertam-se as hormonas do stress – cortisol e adrenalina. Em termos cognitivos, ficamos hipervigilantes, mais atentos ao que se passa e o nosso foco fecha-se sobre o stressor. Emocionalmente, esta resposta pode nos encaminhar para sentimentos de ansiedade, medo, irritabilidade, frustração entre outros.
A nossa resposta ao acontecimento stressante será de acordo com o estado emocional que nos encontrarmos. Poderemos ter uma resposta bem-adaptada de enfrentamento como procurar apoio social, práticas de técnicas de relaxamento, práticas de exercício físico, emprego de pensamento positivo, e reenquadramento entre outros. Ou podemos ter uma resposta mal-adaptada como evitar o problema, ruminar no problema propagando o estado emocional, auto-isolamento, envolvimento em comportamentos não saudáveis, abuso de substâncias, entre outros. Um exemplo de uma reação mal-adaptada perante o exemplo acima seria uma perseguição de carros para terminar num confronto físico. E tudo porque alguém nos cortou o caminho na estrada. Da mesma forma que uma reação bem-adaptada poderia ser um reenquadramento do acontecimento do género “talvez a pessoa esteja mesmo com muita pressa para ir ao hospital?”
Após a fase da reação, ou o stressor está resolvido e a resposta ao stress diminui, ou o stressor persiste levando à perpetuação do stress. Isto ditará o tipo de comportamentos que iremos realizar. Se o stressor persistir ou surgirem novos stressores, a permanência contínua em estado de alerta levamos para que o stress se torne crônico. Este estado traz-nos efeitos negativos na saúde física e mental, como problemas cardiovasculares, sistema imunológico enfraquecido, transtornos de ansiedade, depressão, esgotamento. E todos nós conhecemos técnicas mal-adaptadas para lidar com este tipo de stress crônico. Existe quem se refugie no álcool ou noutras substâncias, há quem se refugie na alimentação em busca de uma gratificação momentânea… Enfim, existem inúmeros comportamentos mal-adaptados que contribuem para que estejamos mais fragilizados, menos preparados para lidar com novos stressores, perpetuando o ciclo do stress até ao final do jogo.
Infelizmente não é possível evitar o stress. Nem mesmo quem pensamos viver sem qualquer pressão, sem qualquer stress, terá os seus stressores. Terão problemas diferentes, como indivíduos diferentes que somos. Mas terão os seus stressores.
Mas felizmente é possível quebrar o ciclo do stress em qualquer uma das fases. Está na nossa mão aprender técnicas bem-adaptadas para lidar com os stressores, criando novos estados mentais para que de futuro o que outrora fora um stressor, já não despolete os pensamentos e estados emocionais que nos levam à “fuga ou luta”, facilitando o propagar de comportamentos saudáveis.