Aproximar da meia-noite: o apelo urgente para a conscientização sobre saúde mental
Enquanto alguns de nós receberam o Novo Ano com os níveis de esperança re-estabelecidos, esse sentimento não é generalizado em toda a população. Esta passada semana acordámos com mais uma notícia triste, uma atriz portuguesa de 47 anos de idade decidiu colocar termo à sua vida. No dia seguinte, um modelo e DJ (conhecido do meu irmão Rodrigo), fez o mesmo aos 38 anos de idade. Este foi o lembrar de uma verdade dura e crua – mais de 700,000 pessoas por ano, à escala global, decidem colocar termo às suas vidas. Estamos a falar de uma pessoa a cada 40 segundos! Esta estatística não pode ser só um número; este número representa indivíduos de todos os escalões sociais, deixando para trás familiares e comunidades. A mesma fonte (World Health Organization) acrescenta mais notícias preocupantes, por cada evento bem sucedido, a probabilidade dita que pelo menos 20 pessoas tentaram o suicídio. E não termina por aqui, já é a quarta maior causa de morte em indivíduos entre os 15 e os 29 anos.
Estes números são mais que uma estatísticaa; é um reflexo das lutas profundas que os indivíduos enfrentam com problemas de saúde mental. As condições de saúde mental, que vão desde a depressão e a ansiedade à perturbação bipolar e à esquizofrenia, podem ser debilitantes, mas muitas vezes permanecem invisíveis.
O estigma social em torno da saúde mental agrava o problema, impedindo muitos de procurarem a ajuda de que necessitam. O estigma e o silêncio em torno das questões de saúde mental são barreiras significativas à procura de ajuda. Muitas culturas e sociedades ainda encaram a doença mental como um sinal de fraqueza ou de falha pessoal. Esta percepção leva à vergonha e ao isolamento daqueles que sofrem, agravando ainda mais as suas condições. Quebrar este ciclo de estigma e silêncio é fundamental para criar um ambiente mais favorável à saúde mental.
A prevenção do suicídio começa com o reconhecimento dos primeiros sinais de problemas de saúde mental. Família, amigos, educadores e empregadores podem desempenhar um papel crucial na observação de mudanças de comportamento, humor ou retraimento social. A intervenção precoce, através de aconselhamento, terapia ou tratamento médico, pode salvar vidas. É vital promover a educação e a sensibilização para a saúde mental nas escolas, locais de trabalho e comunidades para promover uma cultura de apoio e compreensão. Ainda me deslumbra ver pessoas em posições de liderança (não importa se é uma função formal ou não) em total ignorância sobre o que está a acontecer com os seus colaboradores. Eu vi isso com os meus próprios olhos, mas não consigo entender como isso ainda é possível.
O acesso aos serviços de saúde mental é um componente crítico na abordagem desta crise. Infelizmente, muitos países não dispõem de instalações de saúde mental adequadas e, nos locais onde estão disponíveis, o custo pode ser proibitivo. Por exemplo, em Portugal, a saúde mental ainda é vista como um luxo para muitos, tornando a terapia algo de um grupo de elite. Os governos e as organizações de saúde devem dar prioridade aos cuidados de saúde mental, garantindo que sejam acessíveis para todos. Isso inclui investir em profissionais de saúde mental, instalações e programas comunitários.
Enquanto esperamos por decisões governamentais adequadas, é crucial criar um ambiente comunitário de apoio onde os indivíduos se sintam seguros para expressar as suas lutas. Isso envolve educação, conversas abertas e atividades que promovam o bem-estar mental. Grupos de apoio comunitário, linhas de apoio e fóruns online podem oferecer recursos inestimáveis e um sentimento de pertença para aqueles que se sentem isolados.
As organizações, independentemente do seu tamanho, também podem ter uma palavra a dizer nisso. Nós, como líderes, devemos criar um ambiente onde a saúde mental seja discutida abertamente. Isto envolve quebrar o estigma e encorajar conversas sobre bem-estar. Ao partilharmos as nossas próprias experiências ou desafios, podemos estabelecer um precedente de abertura e vulnerabilidade. Isso tornará mais fácil para os nossos colaboradores, ou restantes membros da comunidade, se manifestarem.
Além disso, é altamente relevante garantir que todos os nossos colaboradores, especialmente os de chefia intermédia, sejam formados para reconhecer os sinais de problemas de saúde mental. Embora a maioria das pessoas nessas posições não sejam profissionais com formação em saúde mental, podem oferecer apoio na gestão da carga de trabalho e fornecer recursos ou ajustes quando necessário. A nossa ajuda é limitada, mas pelo menos cada líder deve fazer a sua parte. Quando alguém “de dentro” toma a difícil decisão de acabar com a própria vida, isso prejudica toda a organização. Eu testemunhei isso e foi um período difícil para toda a empresa.
Em meu nome, e através do Eleva-te, continuarei aumentando a conscientização sobre assuntos relacionados ao stress e à ansiedade.
Então, aqui está um novo ano com, esperançosamente, um canto de cisne diferente.
O vosso,
Ricardo Castelhano
(publicado inicialmente no Linkedin no dia 7 de Janeiro de 2024)