O Barco Vazio
Era uma vez um sábio mestre taoísta, que vivia à beira de um lago sereno. Certo dia, enquanto estava sentado na praia, notou um pequeno barco flutuando sem rumo ao longe. Quando este se aproximou, o mestre notou que não havia ninguém a bordo. Curiosos, os aldeões começaram a especular o que teria acontecido ao barco – estaria perdido? estaria abandonado? o que teria acontecido ao tripulante?
A discussão levantou-se e como não chegavam a uma conclusão, dirigiram-se ao mestre taoísta.
O mestre simplesmente sorriu e respondeu:
“Era uma vez um homem que lutou constantemente contra a corrente da vida. Ele resistiu a todas as mudanças, lutou contra todos os obstáculos e agarrou-se ao controle da vida com todas as suas forças. Um dia, ele decidiu atravessar um rio, de barco. Ele remou vigorosamente, a lutar contra a corrente, determinado a chegar ao outro lado.”
“Mas enquanto ele lutava contra o rio, um forte vento se levantou, fazendo com que o barco se afastasse ainda mais do seu caminho pretendido. Furioso e cheio de frustração, o homem gritou e vociferou, culpando o vento pelo seu infortúnio. Ele ainda tentou lutar mais e mais, a tentar desesperadamente recuperar o controle do rumo. Exausto, quando o barco se virou, não conseguiu evitar ser afogado pelo rio.”
“Entretanto, outro homem, que navegava o mesmo rio, em vez de resistir, rendeu-se à corrente e ao vento. Com uma expressão calma e serena, conduziu habilmente o barco até segurança independentemente do destino que o vento e a corrente o apontava.”
O sábio mestre parou por um momento, permitindo que os aldeões contemplassem o significado da história.
“O barco simboliza a nossa mente. Frequentemente somos como o primeiro homem, resistindo ao fluxo natural da vida. Lutamos, lutamos e culpamos as circunstâncias externas pelo nosso sofrimento. Mas, se nos rendermos e abraçarmos o momento presente, podemos enfrentar os desafios da vida com facilidade e graça, à semelhança do segundo homem.”
“A chave para a verdadeira felicidade está em abrir mão dos nossos apegos e aceitar a vida como ela se desenrola. Quando esvaziamos a mente de julgamentos, resistência e controle, ficamos disponíveis para receber a beleza e a tranquilidade do momento presente.”
Com essas palavras, o sábio mestre terminou a sua história, deixando os aldeões com a profunda compreensão da importância de abraçar o vazio interior, encontrar a paz no meio das constantes mudanças da vida, e saborear o momento presente. Afinal de contas, o barco era um bonito barco por si mesmo.
Autor: Desconhecido
Este conto demonstra muito o que é o Taoismo. A vida é um caminho, e a infelicidade está em tentarmos que o caminho seja o por nós delineado. É verdade que em muitos momentos da vida se consegue contrariar a corrente, mas sempre com um preço a pagar.
O facto de aceitar a corrente da vida, não deverá inviabilizar a ambição de alcançar algo. Sou apologista de que devemos continuar a sonhar, a criar objetivos, a tentar alcançar algo. Mas entender que esses objetivos, esses lugares do outro lado do rio, não são os únicos pontos possíveis de atracar o barco, liberta-nos de uma carga tremenda de pressão e stress.
Aceitar que não se controla a natureza, é um passo para que se olhe para o outro lado do rio e se perceba que o objetivo inicial era um, mas que é possível ir parar a outro lado. Quer dizer que devemos iterar constantemente os nossos objetivos, tal como o segundo navegador fez.
Ao aceitar as correntes e os ventos que sopram, podemos navegar o nosso barco em direção a outros objetivos que sejam igualmente interessantes e prazerosos.