O Rio Que Flui
Em tempos muito antigos, um sábio passava os seus dias sentado à beira de um rio, simplesmente a observar o fluxo da água. Este sábio era mesmo muito sábio. Pessoas de toda a parte procuravam a sua orientação, esperando que a sua sabedoria os ajudasse a entender melhor a natureza da vida.
Certo dia, um jovem viajante aproximou-se do sábio e perguntou: “Mestre, o que um rio a correr nos pode ensinar sobre a vida?”
O sábio mestre sorriu, e fez sinal para que o viajante se sentasse ao seu lado. Durante largos minutos observaram, em silêncio, a corrente suave do rio, a serpentear rio abaixo.
“O rio que flui é um professor profundo”, começou o sábio mestre. “Olha como ele se move sem esforço, abraçando cada volta e reviravolta, adaptando-se às mudanças ao longo do seu caminho. Ele não resiste. Ele nem se apega a nenhuma forma particular. Simplesmente, flui, em harmonia com o ritmo da sua existência.”
O viajante ouvia atentamente, e ansioso por descobrir o significado profundo das palavras do sábio, pediu ao mestre para ele explicar melhor.
“O rio ensina-nos a arte de deixar ir”, continuou o sábio. “Assim como o rio permite que a água flua livremente, nós também devemos aprender a libertarmo-nos de apegos e expectativas. Devemos abrir mão dos nossos desejos, medos e arrependimentos. Coisas que simplesmente atrapalham a nossa jornada pela vida.”
O viajante anuiu ao perceber a importância de abrir mão do controle e aceitar o fluxo natural da existência.
“Além disso, o rio ensina-nos também sobre a impermanência. A água que corre hoje não é a mesma que correu ontem, nem será a mesma que correrá amanhã. Tudo na vida está em constante estado de fluxo, sempre a mudar e evoluir. Ao abraçar a impermanência, aprendemos a fluir com as correntes da mudança em vez de resistirmos a elas.”
“O rio também incorpora a interconexão de todas as coisas. Assim como o rio é composto por incontáveis gotas individuais de água, nós também estamos interconectados com tudo e todos ao nosso redor. Os nossos pensamentos, emoções e ações ondulam através do tecido da existência, influenciando o mundo de maneiras que podemos não compreender totalmente.”
O olhar do viajante mudou do rio para a paisagem circundante, sentindo a teia de interconexão que permeia todos os aspectos da vida.
“O rio que corre”, concluiu o sábio mestre, “é um lembrete para abraçarmos o momento presente, a abandonarmos os nossos apegos, a aceitarmos a impermanência e a reconhecer a nossa interconexão com toda a criação. Ao incorporarmos as qualidades do rio, podemos navegar pela corrente da vida com graça, sabedoria e um profundo senso de harmonia.”
O jovem viajante manteve-se sentado mais uns instantes na companhia do mestre sábio, e do rio que flui.
Autor: Desconhecido
Ao longo da vida vamos criando expectativas em relação ao que esperamos que venha a acontecer. Apegamo-nos a pessoas, relações, objetos, hábitos, enfim…a tudo o que nos coloque no espaço de conforto ao qual estamos habituados. Mas a vida não está parada. A vida corre e decorre.
As frustrações surjem por querermos ter o controle desse fluxo. Aceitamos que a vida decorre mas somente nos meus parâmetros. Ou então queremos fazer o impossível. Queremos que a vida fica parada naquele momento em que se foi, outrora, feliz.
Tal como este conto nos explica, a felicidade está em aceitar que não temos de facto controlo sobre a corrente que é a vida. Quanto mais nos habituarmos a reagir ao presente, aceitando-o sem esforço, mais fácil será vislumbrar a sabedoria.
A felicidade está em viver o momento presente, consciente da sua impermanência. Se estamos num momento bom, este terá de terminar. Se estivermos num momento mau, este também terá de terminar. E o desfecho, não o conseguimos vislumbrar nem controlar.