ilustração de um cavalo, uma égua e um humano sem uma perna

A Fortuna do Criador de Cavalos

ilustração de um cavalo, uma égua e um humano sem uma perna

A Fortuna do Criador de Cavalos

Era uma vez, em tempos ancestrais, uma aldeia envolta em mistérios e encantamentos. Dentro dela, habitava um exímio criador de cavalos cuja reputação ultrapassava os limites das montanhas. O seu fiel garanhão era objeto de desejo de todos os aldeões, que ansiavam pela sua magnificência. Mas, em uma ensolarada manhã de Primavera, o destino pregou uma partida cruel. O cavalo desapareceu sem deixar rasto.

Diante dessa infortuna desventura, um aldeão se aproximou do criador de cavalos com uma expressão pesarosa e lamentou: “Que tristeza recai sobre ti, ó desafortunado! Isso foi muito azar.”.

No entanto, o criador de cavalos respondeu com serenidade: “Quem pode discernir os caprichos do destino? Quem sabe o que é a sorte ou o azar?” E assim, ele seguiu sua jornada sem nutrir ressentimentos.

Algumas semanas depois, o cavalo regressou triunfante à aldeia, acompanhado de uma majestosa égua selvagem, cuja beleza encantava a todos os olhos.

“Que felicidade alcanças, pois primeiro o cavalo foge e agora retorna com uma companheira! Isso é verdadeira sorte.” exclamaram vários aldeões, maravilhados. No entanto, o criador de cavalos, inabalável, continuou a responder: “Quem pode afirmar com certeza o que é sorte ou azar?”.

O criador instruiu o filho a domar a esplêndida égua. No entanto, num fatídico dia de adestramento, o jovem foi lançado violentamente ao chão, partindo uma perna. A fratura foi tão grave que a amputação se tornou inevitável. Os aldeões, num coro de lamentações, clamaram: “Que desgraça te abateu, agora teu filho está coxo! Isso é demasiado azar.”

Novamente, o criador de cavalos respondeu, com a mesma serenidade de antes: “Quem pode decifrar os enigmas do destino? O que aparenta ser infortúnio pode, na verdade, ser o prelúdio de algo grandioso. Quem sabe o que é sorte ou azar?”.

Este conto se desenrola num período de instabilidade, onde as sombras da guerra pairam sobre todas as aldeias. Num fatídico conflito, cada jovem daquela terra foi convocado para enfrentar os invasores. Entretanto, na aldeia do criador de cavalos, todos os jovens tombaram em batalha, exceto um – o seu filho não foi recrutado, pois possuía apenas uma perna para caminhar.


Este conto ilustra a noção de que os eventos da vida não são inerentemente bons ou maus, mas são as nossas percepções e julgamentos que moldam a nossa experiência. A sabedoria está em manter a mente aberta para aceitar o fluxo e refluxo das circunstâncias da vida, sem rotulá-los definitivamente como positivos ou negativos, ou seja, sem quaisquer julgamentos.

Ao cultivar uma atitude de aceitação e de não julgamento, podemos encontrar paz e contentamento no meio dos altos e baixos da vida.

É um convite a abraçar o momento presente com equanimidade, confiando na sabedoria inerente ao desenrolar da própria vida.